Dalva Sele Paiva afirma que voltará ao Brasil |
Dalva Sele Paiva diz ter provas. Diz ter medo também. Presidente do Instituto Brasil e autora das denúncias que chacoalharam a reta final da sucessão no estado, Dalva está em Barcelona, na Espanha, para onde foi no fim de agosto, antes que pipocassem na imprensa as manchetes com graves acusações contra integrantes do alto escalão do PT no estado. Todas no rastro da reportagem da Veja que lançou suspeitas sobre o candidato do partido ao governo, Rui Costa, o senador Walter Pinheiro, os deputados federais Nelson Pellegrino e Afonso Florence, além de servidores graduados da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Urbano (Sedur).
Em conversa com o CORREIO por e-mail, Dalva relata perseguições sofridas, segundo ela, pelos companheiros de militância petista, rechaça as acusações de que teria sido ‘comprada’ pela oposição e garante ter elementos suficientes para comprovar o que foi contado à Veja. Descrita pelos amigos como uma pessoa "extremamente organizada e detalhista”, a presidente da ONG afirma que, na hora certa, entregará documentos que comprovam o envolvimento das pessoas citadas por ela em desvios de recursos do Fundo de Combate à Pobreza para construção de casas populares.
Pessoas do PT,
incluindo o governador Jaques Wagner, e o atual presidente do partido,
Everaldo Anunciação, têm dito que a senhora fez as denúncias motivada
por dinheiro. O que lhe levou a falar depois de tanto tempo?
O
motivo pelo qual demorei a dizer tudo que sabia foi porque passei por
problemas muito graves de saúde, entre 2011 e meados de 2014. Nesse
momento, a minha única luta era pela minha vida e saúde. Passei por um
transplante de fígado em 2012, sofri fratura da tíbia em 2013. Criei o
Instituto Brasil em 2002 devido a minha sensibilidade voltada para o
social e o meio ambiente. Inicialmente, atuando com projetos de
relevância, como regularização fundiária, acompanhamento e gestão de
projetos. Entre eles, o Dique do Cabrito, Fábrica da Cidadania,
capacitação de pessoas para área de saúde, educação e construção civil.
Mais adiante, na execução de uma política habitacional voltada para as
classes sociais menos favorecidas. Mas a pressão do PT na Bahia para
usurpar as verbas destinadas às casas populares era muito forte.
Acabaram inviabilizando a atuação do instituto por perseguição política.
Estava também sendo perseguida como pessoa física, pois não havia forma
de trabalhar. Todo projeto em que estava envolvida, mesmo
indiretamente, eles bloqueavam. Quanto a dizer que recebi dinheiro para
fazer as denúncias, é uma deslavada mentira que eles terão que provar.
Quais eram as suas relações com o PT?
Eu fui militante do PT por muitos anos, ajudando inclusive financeiramente.
Por que a decisão de sair do Brasil?
Saí
do Brasil para garantir minha segurança e a integridade física da minha
família, pois sei como eles agem quando discordamos ou falamos a
verdade que os contrariam.
A senhora pretende retornar ao Brasil quando?
Assim que minha segurança e integridade física estiverem asseguradas.
Sofreu algum tipo de ameaça por conta das ações do instituto? De quem?
Estava
sendo ameaçada, e até pessoas que se relacionavam comigo, por
consequência, também. Obviamente, quem ameaça não se identifica.
A senhora tem documentos que comprovam as acusações feitas por intermédio da revista Veja? É possível ter acesso a eles?
Tenho sim. Os documentos existem e serão entregues à Justiça oportunamente.
A Veja publicou que o deputado Rui Costa teria constado na folha de pagamento do instituto. Isto está documentado?
O deputado Rui Costa nunca constou na folha de pagamento, mas recebeu algumas vezes.
As ações do instituto diziam respeito apenas à campanha eleitoral de 2008?
Outros momentos também, entre 2004 e 2010.
Representação entregue ao MPF e Polícia Federal
Líderes
de quatro partidos de oposição ao PT no Congresso Nacional entregaram,
ontem, uma representação ao procurador-geral da República, Rodrigo
Janot, na qual solicitam investigação do Ministério Público Federal
(PSDB) sobre os indícios de desvios de verbas destinadas a programas
habitacionais no estado. "Como se tratam de recursos do Fundo de Combate
à Pobreza, pedimos que o MPF apure imediatamente esse escândalo
envolvendo o PT da Bahia”, disse o deputado federal Antônio Imbassahy,
líder do PSDB na Câmara.
Janot, do MPF, entre Bueno, Imbassahy, Agripino e Mendonça Filho (Foto: Divulgação/Mariana di Pietro) |
Além
do parlamentar tucano, participaram do encontro os líderes do PPS,
Rubem Bueno (PR), e do DEM, Mendonça Filho (PR), além dos deputados
baianos Arthur Maia (SD) e Cláudio Cajado (DEM) e do senador Agripino
Maia, presidente nacional do Democratas. As lideranças da oposição
protocolaram ainda ontem pedidos de investigação em quatro outros
órgãos: Polícia Federal, Tribunal de Contas da União, Controladoria
Geral da União e Ministério da Justiça.
"Vamos dar entrada
também no Conselho de Ética da Câmara pedindo que seja verificada a
ocorrência de quebra de decoro parlamentar praticada pelos deputados
citados pela senhora Dalva Sele Paiva à revista Veja”, acrescentou
Imbassahy, referindo-se a três parlamentares petistas: Rui Costa, Afonso
Florence e Nelson Pellegrino.
Todos eles negam as acusações,
atribuem as denúncias a "armações eleitoreiras” fabricadas e bancadas
pelos adversários na sucessão estadual e garantem que vão processar
criminalmente a publicação e a presidente da ONG investigada por desvios
de cerca de R$ 6 milhões de programas habitacionais voltados à
população carente do interior do estado.
"É necessário
investigar se há outras denúncias de desvio de recursos do Fundo de
Combate à Pobreza. O caso do PT da Bahia, que veio à tona, pode estar se
reproduzindo em outros estados, causando uma sangria desatada nos
cofres públicos”, acrescentou o parlamentar tucano.
Denúncias envolvem deputada do PT e ex-secretário da Saúde
Em
um desdobramento da reportagem sobre os desvios no Instituto Brasil, a
revista Veja publicou em sua versão na internet o nome de três novos
petistas acusados pela presidente da ONG Instituto Brasil. Segundo a
publicação, as denúncias feitas por Dalva Sele Paiva inclui no rol de
beneficiários a deputada Maria Del Carmen (PT), ex-presidente da
Companhia de Desenvolvimento Urbano da Bahia (Conder), o ex-secretário
de Saúde do estado Jorge Solla, candidato a deputado federal, e o
ex-superintendente de Educação do governo Clóvis Caribé, militante
histórico do PT.
Em nota à imprensa, a deputada petista disse
desconhecer "qualquer esquema de corrupção no governo da Bahia” e que
"repudia as denúncias efetuadas por Dalva Sele Paiva à Veja”. "No que
diz respeito ao convênio citado pela denunciante, firmado entre o
Instituto Brasil e a Conder em 2007, é fato notório que o serviço foi
executado, possibilitando a captação dos recursos para inúmeras obras do
PAC”, diz.
À Veja, a deputada, no entanto, reconheceu que um
de seus irmãos recebeu R$ 35 mil da ONG em 2006, como pagamento de
dívida, e que um filho também recebia dinheiro do instituto, porque
trabalhava para Dalva Sele. Caribé também negou envolvimento com a ONG e
garantiu que recebeu apenas R$ 3 mil do instituto a título de
consultoria na área de regularização fundiária. Solla não foi encontrado
para comentar as denúncias.