Uma em cada dez mulheres em idade reprodutiva tem endometriose – doença caracterizada pelo crescimento fora do útero de um tecido que normalmente reveste o útero, o endométrio. Embora os sintomas variem muito de mulher para mulher, há períodos de muita dor na região pélvica por causa de uma reação inflamatória crônica. De acordo com Suely Resende, especialista em Medicina Reprodutiva e diretora do Fertility Medical Center – Unidade Campo Grande (MS), ainda há controvérsias sobre o papel da endometriose na infertilidade. "Entre 30% e 50% das mulheres inférteis têm endometriose. Quando mínima ou leve, a endometriose pode prejudicar a função ovariana, peritoneal, tubas uterinas e endométrio, levando a uma fertilização ou implantação defeituosas. Já quando a doença é moderada ou grave, pode provocar a infertilidade ou redução nas taxas de gravidez quando comparadas com mulheres com endometriose em estágio inicial”.
A especialista alerta, também, para a possibilidade de a endometriose levar a um esgotamento prematuro da quantidade de folículos ovarianos. Mas afirma que a intensidade da dor não está diretamente ligada à maior ou menor probabilidade de a paciente enfrentar problemas para engravidar. "Mesmo que as dores sejam muito intensas, não quer dizer que a infertilidade seja mais grave. Além dos sintomas e achados no exame clínico, o padrão-ouro no diagnóstico da endometriose é a videolaparoscopia. Esse exame promove uma avaliação minuciosa das lesões, aderências e teste de permeabilidade tubária, nos permitindo estadiar a doença, fazer biópsia de lesões e tratá-las cirurgicamente”.
Recentemente, pesquisadores da Universidade de Adelaide (Austrália) chegaram à conclusão de que há relação entre a doença e o contato com fluido seminal. "Estudos de laboratório comprovaram que o sêmen agrava ainda mais as lesões de endometriose. Ainda não sabemos como prevenir ou tratar a doença. Entretanto, quanto mais informações temos sobre seus mecanismos, mais descobrimos sobre o que agrava a endometriose e conseguimos agir no sentido de conter sua progressão”, diz a professora Louise Hull.
Se esses estudos se confirmarem, o uso de preservativo será recomendado em toda relação sexual como método para atenuar os episódios de dor da endometriose e evitar o agravamento da doença. Entretanto, para um casal que está tentando engravidar, trata-se de um método que irá tornar tudo mais difícil. É nesse ponto que a fertilização in vitro acena como a forma mais viável de ter um bebê. "A fertilização in vitro é a primeira opção para pacientes com endometriose moderada ou grave que queiram engravidar. Quando a paciente tem mais de 35 anos, primeiramente costumamos indicar laparoscopia para eliminar os focos de endometriose e, na sequência, promovemos uma indução ovulatória. Se, num prazo de seis meses, a paciente não engravidar, daí sim sugerimos a FIV”, diz Suely Resende.