
Na manhã desta sexta-feira (19 de dezembro), a cidade de Prado, amanheceu sob tensão. Oficiais de justiça, acompanhados por militares da PMBA, se deslocaram até a área ocupada por famílias do Movimento de Famílias MUAF, conhecida pelos moradores como bairro Lagoa Grande, para informar e cumprir a reintegração de posse determinada pelo Poder Judiciário.
A leitura da decisão judicial, realizada diante de homens, mulheres e crianças, não encerrou o conflito, pelo contrário. Moradias improvisadas foram derrubadas, sonhos foram soterrados junto com pedaços de madeira e lona, e o que antes eram gritos de desespero e tristeza rapidamente deram lugar a disparos de balas de borracha e jatos de spray de pimenta, sob a justificativa oficial de manutenção da ordem.
Para as famílias, porém, a cena foi de truculência e desproporção. Para os líderes do MUAF, o episódio escancara não apenas a força do Estado, mas também a insatisfação crescente com a postura do gestor municipal, acusado de omissão diante de uma crise social anunciada. A área, segundo os ocupantes, é tratada de forma discriminatória, aprofundando desigualdades históricas.
A reintegração de posse desta sexta-feira beneficia juridicamente a empresa Bahia Costa Sul Empreendimentos Urbanísticos LTDA/ME (BASEVI). No entanto, o caso está longe de ser pacífico. Famílias, lideranças comunitárias e agentes políticos seguem mobilizando questionamentos sobre a legitimidade da propriedade, exigindo documentos comprobatórios, licenças ambientais válidas e o mapa real da área reivindicada pela empresa.
O conflito integra uma batalha judicial complexa, que envolve o Movimento de Famílias MUAF, o Poder Judiciário e o Governo do Estado da Bahia. A área permanece ocupada desde agosto, e voltou ao centro da polêmica em 10 de novembro, quando o juiz da Vara Cível da Comarca de Prado expediu um novo mandado de reintegração, no âmbito do processo nº 8002819-52.2023.8.05.0203.
O cenário observado em Lagoa Grande não é apenas jurídico, é profundamente político. Ele soma resistência popular, força policial, decisões judiciais contestadas e políticas públicas ineficazes, incapazes de oferecer uma solução que respeite o direito à moradia, previsto na Constituição.

