Foto: Reprodução/Getty Images
O ex-presidente do Uruguai José “Pepe” Mujica morreu nesta terça-feira, 13, aos 89 anos. O político enfrentava um câncer no esôfago e havia anunciado, em janeiro deste ano, que a doença tinha se espalhado.
"O câncer no esôfago está colonizando o fígado. Não tem nada que eu faça que consiga parar. Por quê? Porque sou um idoso e porque tenho duas doenças crônicas. Meu corpo não aguenta", disse Mujica, ao jornal uruguaio Búsqueda, em 7 de janeiro de 2025.
Na última segunda-feira, 12, a esposa do líder político uruguaio, Lucía Topolansky, anunciou que ele estava em estado terminal e sob cuidados paliativos. De acordo com a senadora, os médicos estavam tentando “fazer isso acontecer da melhor forma possível”, mantendo-o sem dor, capaz de dormir e sem ansiedade.
A informação da morte de Mujica foi confirmada por Yamandú Orsi, presidente do Uruguai, que lamentou a perda. “É com profundo pesar que anunciamos o falecimento do nosso colega Pepe Mujica. Presidente, militante, referência e líder. Sentiremos muita falta de você, querido Velho. Obrigado por tudo o que você nos deu e pelo seu profundo amor pelo seu povo.”
De guerrilheiro a 'presidente mais pobre do mundo'
Nascido em 20 de maio de 1935, em Montevidéu, Pepe integrou o Movimento de Liberação Nacional - Tupamaros. O grupo guerrilheiro, fundado por Raúl Sendic, era contra a liderança repressiva do Uruguai, ainda antes da ditadura militar. Atuava com roubos a bancos e a empresas, distribuindo o saque entre os mais pobres.
O uruguaio foi preso três vezes ao longo da vida, uma delas por causa do assassinato de um policial. Ele fugiu da prisão duas vezes --incluindo a famosa fuga de Punta Carretas--, mas foi recapturado em ambas e cumpriu cerca de 14 anos no total. Em 1972, o ex-presidente levou seis tiros e quase sangrou até a morte na calçada, após revidar uma abordagem policial em uma pizzaria.
Como prisioneiro da ditadura militar que tomou o poder em um golpe em junho de 1973, Mujica foi torturado e passou longos períodos de tempo em confinamento solitário, como contou em seu livro biográfico Mujica, publicado por Miguel Ángel Campodónico em 1999.
O ex-presidente conta ter sido mantido em confinamento solitário, privado de livros, jornais e até mesmo de luz solar por ao menos 7 anos. Ele disse que chegou até a comer papel higiênico, sabão e moscas para sobreviver. Mujica foi um dos militantes utilizados como “refém” pelo regime em troca do desmantelamento das guerrilhas. Em 1985, ele e os outros presos políticos foram libertados sob uma anistia geral.
O Tupamaro se juntou à coalizão de esquerda conhecida como Frente Ampla (FA) e se reorganizou como um partido político legal, o Movimento de Participação Popular (MPP), para as eleições de 1989.
Como uma das principais vozes do MPP, Mujica foi eleito presidente em 2009 em um eleição de segundo turno contra Luis Alberto Lacalle. Se tornou um dos grandes líderes políticos da América do Sul e sua presidência --que durou de 2010 a 2015-- foi marcada por aprovação de leis pioneiras na América Latina como liberalização do aborto, legalização da maconha e casamento de pessoas do mesmo sexo.
Famoso por dirigir seu fusca azul, ganhou o apelido de “presidente mais pobre do mundo” devido às suas maneiras simples de viver. Um título que rejeitava. Pregava uma vida menos consumista e a Justiça Social, temas que marcaram a sua passagem pela presidência.
Após deixar o cargo, ele se tornou senador, posto que ocupou até 2018. Antes, também foi ministro da Agricultura.
Em outubro do ano passado, em entrevista ao El País, Mujica falou sobre a morte. “Eu me dediquei a mudar o mundo e não mudei po*** nenhuma, mas estive entretido. E gerei muitos amigos e muitos aliados nessa loucura de mudar o mundo para melhorá-lo. E dei um sentido à minha vida. Vou morrer feliz, não por morrer, mas por deixar uma marca que me supera com vantagem. Nada mais”, declarou.