Registro é inédito na Bahia e é o segundo caso documentado no país desta associação. Rêmoras são conhecidas por “pegar carona” em animais aquáticos visando obter proteção e alimentos
A equipe de pesquisa do Projeto Boto Sotália, contratada pela Fibria para monitorar os botos-cinza (Sotalia guianensis) na região de Caravelas, no sul da Bahia, fez um registro inédito durante seu trabalho recente na localidade. Os consultores flagraram uma rêmora presa no corpo de um dos botos. Popularmente conhecida como peixe-piolho, a rêmora costuma se hospedar em animais aquáticos em busca de proteção e alimentos. Esse foi o primeiro caso de associação entre boto e rêmora documentado na Bahia e o segundo registrado no país.
Segundo o analista de Meio Ambiente da Fibria, Thiago Rizzo, as rêmoras são peixes que apresentam uma estrutura de sucção no topo da cabeça que os ajuda a fixar em outros organismos marinhos. “Ao contrário do que muitos pensam, as rêmoras não são parasitas, nem prejudicam o hospedeiro. Elas apenas ‘pegam carona’ e se beneficiam economizando energia, obtendo proteção e alimentando-se de parasitas da pele e de restos das refeições do outro animal”, explica Thiago.
Esta relação de associação é conhecida como comensalismo, quando um dos seres é favorecido sem prejudicar o outro. As rêmoras prendem-se geralmente em tubarões, mas também podem ser encontradas em tartarugas, raias, baleias e golfinhos.
De acordo com Marina Angeli, pesquisadora do Instituto Baleia Jubarte, que executa o Projeto Boto Sotália nas proximidades do Terminal Marítimo da Fibria, o ineditismo da observação da rêmora fez vibrar a equipe de monitoramento. “Isso traz mais importância e visibilidade para a conservação dos botos e da região do Banco dos Abrolhos", afirmou
Monitoramento
Durante todo o ano, diversos embarques são realizados pela equipe do Projeto Boto Sotália com o intuito de localizar os grupos de botos, registrar seus comportamentos, fotoidentificar os indivíduos e compreender de que forma esta espécie tão ameaçada vive e convive com esta área.
Além das rêmoras, recentemente, o supervisor do Terminal Marítimo da Fibria em Caravelas, Alan Pierre de Oliveira Gomes, também flagrou em um vídeo dois botos em frente ao Terminal Marítimo de Caravelas. A presença dos botos da espécie cinza tem grande importância ecológica e demonstra os ótimos indicadores de saúde do ecossistema aquático em que vivem.
Thiago informa que os botos fazem parte de uma população residente no local estimada em cerca de 120 animais, que vem sendo monitorada no estuário do Rio Caravelas e adjacências, com o apoio da Fibria.
O monitoramento é um dos estudos mais longos da espécie com coletas anuais padronizadas, completando 15 anos de coletas e mais de 820 dias de amostragem. O analista explica ainda que o boto-cinza é uma espécie sentinela, que deve ser usada para monitorar a qualidade do ecossistema marinho-costeiro que a empresa está inserida.