Número de buscas por um urologista no ano passado foi 33% menor na comparação com 2019 - REPRODUÇÃO/FREEPIK
Os exames preventivos incentivados pelo Novembro Azul são essenciais para que o câncer de próstata seja diagnosticado precocemente e, assim, haver a possibilidade de cura. Acontece que o sucesso da campanha, que vinha desconstruindo os estigmas acerca da doença e dos procedimentos diagnósticos, esbarrou na pandemia de Covid-19, que afastou os homens do consultório e dos cuidados com a saúde.
Um levantamento realizado pela SBU (Sociedade Brasileira de Urologia) revelou que o número de cirurgias no SUS para retirada da próstata em decorrência de câncer caiu 21,5% ano passado. Os exames também foram impactados: o PSA (antígeno prostático específico) teve redução de 27% e o de biópsia da próstata, 21%. O número de homens que buscaram um urologista no ano passado foi 33% menor na comparação com 2019.
Para o urologista Rodrigo Luiz Quarteiro, membro da SBU e especialista em urologia oncológica pelo Hospital do Câncer de Barretos, as consequências do impacto da pandemia na forma como os homens lidam com a saúde são “terríveis” e serão sentidas a longo prazo.
“Foi difícil engatar o Novembro Azul por causa do preconceito por parte do homem, mas estávamos indo bem e a pandemia quebrou esse ritmo. Então aquele homem que já estava acostumado a fazer os exames todo ano, deixou de ir. Quanto mais tardio o diagnóstico, mais difícil a cura, porque se fosse algo que só a cirurgia resolveria, com a demora o paciente vai precisar passar por uma radioterapia ou uma quimioterapia”, ressalta.
Vale lembrar que durante a crise sanitária causada pela pandemia, hospitais e postos de saúde da rede pública tiveram que priorizar o atendimento aos casos de Covid-19, o que resultou em mais de 1 bilhão de procedimentos médicos não realizados, segundo o Conasems (Conselho Nacional das Secretarias Municipais de Saúde).
“As cirurgias no SUS para a retirada do tumor de próstata ficaram represadas, só foram feitas as de urgência, então a fila, seja no SUS ou particular, ficou longa. Então além do diagnóstico atrasado, aqueles que já estavam diagnosticados serão operados tardiamente”, afirma Quarteiro.
Além disso, o distanciamento social, uma das maneiras mais efetivas de evitar o contágio pelo SARS-CoV-2, também afastou os homens das consultas de rotina. “O paciente não foi ao consultório e deixou de ser diagnosticado por medo de pegar Covid, não foi ao laboratório para fazer o teste de sangue da próstata por medo, então deixou de procurar e quebrou a rotina de cuidado”, destaca o especialista.
A recomendação do médico é de que a família incentive a retomada dos exames preventivos e, caso necessário, acompanhe o paciente. “A maioria dos meus pacientes são levados pela mulher ao consultório para fazer exame de próstata, porque não vai por conta própria, só quando a situação já está ruim”, ressalta o médico.
Como evitar o câncer de próstata
Segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer), o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens no Brasil. O urologista destaca a obesidade e, principalmente, a genética – quando há histórico familiar– como as principais causas da doença. Por isso, os exames preventivos são essenciais para evitar quadros graves ou morte.
“Seja com o pai, tio ou irmão, quem tem casos na família precisa começar a fazer os exames preventivos aos 40 anos. Eu recomendo fazer o PSA pelo menos duas vezes por ano, porque existe uma curva", explica o médico.
"O normal é 2,5, aí tem um paciente que está com 0,1; 0,2; e, de repente, vai para 2,5. Continua sendo normal, mas a velocidade com que esse PSA subiu conta muito, já indica uma ressonância ou biópsia da próstata, isso faz uma diferença muito grande para o diagnóstico”, completa Quarteiro.
Além disso, manter hábitos saudáveis, com a prática de exercício físico e a alimentação balanceada, também é importante para manter a saúde e evitar o problema.
Para tratar o câncer de próstata, o especialista explica que é preciso avaliar o biotipo de cada paciente e, quando é um homem mais jovem, a cirurgia para a retirada do tumor é o mais indicado.
“A radioterapia também tem um ótimo resultado. Quando não há chances de cura, mas dá para prolongar a vida do paciente por até 10 anos, se faz bloqueio hormonal, um corte na testosterona com injeções trimestrais, que evita o crescimento do tumor e retarda a doença, mantendo uma qualidade de vida muito boa para o paciente”, afirma.