Paciente já está há mais de um ano sem a presença do vírus - DIVULGAÇÃO/NIH
Um hospital na Califórnia (Estados Unidos) anunciou nesta quarta-feira (27) que um homem de 66 anos está há mais de um ano e cinco meses em remissão do HIV, causador da Aids, após receber um transplante de células-tronco e interromper o tratamento da doença. Na prática, isso significa que ele está curado por todo esse tempo.
“Quando fui diagnosticado com HIV, em 1988, como muitos outros, pensei que fosse uma sentença de morte”, disse o homem, que escolheu permanecer anônimo, em um comunicado divulgado pelo Hospital City of Hope.
E acrescentou: “Nunca pensei que viveria para ver o dia em que não tivesse mais HIV".
O paciente convivia com a doença havia mais de 30 anos e foi considerado o caso mais longo de uma pessoa com HIV até atingir a cura. O procedimento de remissão começou após um transplante de células-tronco para tratar um tipo de câncer no sangue mais prevalente em pessoas soropositivas, a LMA (leucemia mieloide aguda).
Com 63 anos na época, o homem recebeu as células de um doador voluntário de células-tronco com uma mutação genética rara, denominada CCR5 delta 32, que contém o homozigoto que torna as pessoas resistentes à maioria das cepas do vírus HIV.
Isso se dá porque geralmente esse vírus usa a proteína CCR5 como "porta de entrada" para invadir as células imunes e atacar o sistema imunológico. Porém indivíduos com essa mutação têm esse caminho bloqueado, o que impede a replicação do vírus.
“Ele viu muitos de seus amigos morrer de Aids nos primeiros dias da doença e enfrentou muitos estigmas quando foi diagnosticado com HIV, em 1988. Mas agora ele pode comemorar esse marco médico. Não podemos encontrar evidências de replicação do HIV em seu sistema”, afirma a professora Jana Dickter, da divisão de doenças infecciosas do City of Hope.
Além de conseguir o feito de ser o paciente mais velho com HIV e câncer no sangue a se submeter a um transplante, ele foi o primeiro a alcançar a remissão de ambas as doenças nessa idade.
“Esse paciente tinha um alto risco de recaída da LMA, o que torna sua remissão ainda mais notável", disse o hematologista do City of Hope, Ahmed Aribi.
Preparação para o transplante
O homem passou por três terapias diferentes e menos intensivas para entrar em remissão do câncer antes de receber o transplante alogênico (mais tolerado por pessoas mais velhas). O processo é necessário para não causar complicações.
De acordo com Aribi, o paciente não apresentou problemas médicos graves após o transplante.
Após a aprovação de um conselho de revisão institucional, o indivíduo parou, em março de 2021, de tomar antirretrovirais usados por pacientes com HIV – ele poderia ter descontinuado o uso antes, mas queria se vacinar contra a Covid-19.
Próximos passos
O City of Hope alega que continua monitorando o paciente de forma contínua e que o caso confere um grande avanço ao tratamento da doença com células-tronco.
“Como esse paciente foi o mais velho a receber um transplante de células-tronco [dos quatro pacientes da história], viveu mais tempo com HIV antes de seu transplante e recebeu a terapia menos imunossupressora, agora temos evidências de que, se o doador de células-tronco certo for encontrado para pacientes que vivem com HIV que desenvolvem câncer no sangue, poderemos usar opções de regime de quimioterapia mais recentes e menos intensivas para tentar alcançar uma remissão dupla. Isso pode abrir novas oportunidades para pacientes mais velhos que vivem com HIV e câncer no sangue”, diz a professora.
Os pesquisadores devem continuar procurando formas de agir diretamente sobre a proteína CCR5 com base em terapias menos invasivas, como a genética.
Relembre o terceiro caso de cura
A terceira pessoa a atingir a cura do HIV foi uma mulher, após receber um transplante de células-tronco de cordão umbilical durante um tratamento de leucemia mieloide aguda. No caso dela, quando a notícia foi divulgada, estava sem a presença do vírus no sangue havia 14 meses.
A mulher fazia uso de medicamentos antirretrovirais havia quatro anos quando descobriu a LMA e foi submetida a um tratamento quimioterápico, em que houve remissão da leucemia. Então, recebeu o transplante de células-tronco, mas seus níveis de HIV continuavam detectáveis naquele momento, embora estivessem controlados.
Entretanto, em 2017, após receber uma suplementação de células de um doador adulto, um parente, chamadas células haplo, o HIV não foi mais detectado.
Em outros dois casos a remissão do vírus HIV foi observada antes da dessa mulher. O primeiro caso foi o do chamado "paciente de Berlim", considerado curado por 12 anos — até morrer de leucemia, em setembro de 2020. O segundo, chamado de "paciente de Londres", está em remissão do HIV há mais de 30 meses.