Alimentar-se de forma inadequada e manter uma vida sedentária são hábitos que a população dos países em desenvolvimento – entre os quais o Brasil – aprendeu rapidamente. Mas o problema vai além dos quilinhos a mais, e as consequências de uma dieta desequilibrada são grandes para a saúde. Uma delas corresponde ao fator de risco para as doenças do sistema circulatório como infartos e derrames: o diabetes mellitus.
Sua prevalência tem aumentado em proporções epidêmicas. Estimativas da Organização Mundial da Saúde ( OMS) sugerem que aproximadamente 180 milhões de pessoas no mundo apresentam diabetes e, provavelmente, esse número será mais que o dobro em 2030. Os países em desenvolvimento são os que mais apresentam aumento de casos. A possível razão é a maior expectativa de vida da população, além dos maus hábitos alimentares e do sedentarismo. A OMS estima que quase 80% das mortes causadas por diabetes ocorrem em países de baixa e média renda, sendo que a maioria dessas pessoas tem mais de 70 anos.
Açúcar no sangue
O corpo não consegue administrar a glicose de forma adequada, o que aumenta seus níveis no sangue. A partir daí começam os problemas de saúde"
O diabetes mellitus é uma alteração no metabolismo da glicose, causada pela deficiência na produção ou ação da insulina – hormônio produzido pelo pâncreas e responsável por transformar as moléculas de glicose em energia. "O corpo não consegue administrar a glicose de forma adequada, o que aumenta seus níveis no sangue. A partir daí começam os problemas de saúde", alerta Daniel Lerario, endocrinologista do Hospital Israelita Albert Einstein ( HIAE). Essa é a doença mais comum, considerada epidêmica e pode se apresentar de três maneiras:
Tipo I
A pessoa com esse tipo de diabetes tem de usar insulina para o resto da vida. "Esses indivíduos têm inflamação no pâncreas, daí a deficiência quase absoluta de insulina", explica o médico.
Tipo II
Atinge, em geral, pessoas com mais de 40 anos. A maior parte das pessoas com esse tipo de diabetes tem outros fatores relacionados à doença, como obesidade, sedentarismo e histórico do problema na família. "Nesse caso, é possível tratar com medicação, dieta alimentar e atividade física. E com o passar do tempo, especialmente nos menos aderentes ao tratamento, o uso de insulina pode ser necessário", afirma o dr. Lerario.
Gestacional
Desenvolvida durante a gravidez. Geralmente desaparece depois do nascimento do bebê. Há dois fatores de risco importantes nesse caso: o aumento des controlado de peso durante a gravidez e quando a futura mamãe tem mais de 35 anos.
Mal silencioso
O ideal é não esperar os sintomas surgirem para procurar um médico. Com exames periódicos, é possível diagnosticar o aumento da glicose e iniciar o tratamento precocemente"
Um dos principais problemas do diabetes é que ele pode se desenvolver de forma assintomática – quando os primeiros sinais de alerta começam a aparecer, o quadro já está bem estabelecido. Prova disso é o Censo Nacional sobre a Prevalência do Diabetes do Ministério da Saúde, realizado na década de 1980, que mostrou que 50% dos diabéticos desconheciam o diagnóstico.
"O ideal é não esperar os sintomas surgirem para procurar um médico. Com exames periódicos, é possível diagnosticar o aumento da glicose e iniciar o tratamento precocemente", informa o médico. Casos de diabetes na família são sinais de que o acompanhamento periódico é recomendável, pois o problema pode ser herdado.
Quando associado à obesidade, os riscos para a saúde são ainda maiores. "Hoje, a epidemia de diabetes manifesta-se até entre as crianças, por estarem cada vez mais obesas", explica o dr. Lerario.
Na dose certa
O nível normal de glicose no sangue é abaixo de 100 mg/dl. Nos casos avançados de diabetes, esse índice ultrapassa os 180 mg/dl alguns sintomas podem aparecer. "Antes disso já se considera diabetes, e vários problemas vão sendo causados mesmo que não haja sintomas", ressalta o endocrinologista.
Os principais sintomas são:
- aumento do volume da urina - ao que chamamos de poliúria
- aumento do apetite - ao que chamamos de polifagia
- aumento da sede - ao que chamamos de polidipsia
- coceiras pelo corpo e, no caso das mulheres, em especial na região vaginal
- alterações visuais ('vista embaçada')
O dr. Daniel lembra que, caso as taxas de glicose permaneçam altas ao longo de anos, há depósitos do excesso de glicose nos vasos sanguíneos e nervos, que podem ocasionar complicações crônicas do diabetes, como cegueira, distúrbios neurológicos e problemas renais crônicos. "Corre, ainda, risco de gangrena das pernas, o que pode levar até a amputações. E a pessoa fica sujeita a doenças cardiovasculares", comenta o dr. Lerario.
Em alguns casos é possível controlar o diabetes apenas com dieta alimentar e prática de atividades físicas. Mas muitos pacientes precisam de medicação. As boas notícias são que há formas de identificá-la ainda no início e que existem tratamentos cada vez mais avançados, incluindo o exame de monitoração contínua da glicose.
Alternativas para o tratamento
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Medicamentos orais
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Exame de monitoramento contínuo da glicose
Com esse exame é possível verificar a qualidade do controle do diabetes, estabelecendo claramente os períodos do dia em que o paciente encontra-se descompensado"
O exame é feito com a inserção de um sensor sob a pele. O sensor fica ligado a um monitor que registra, de forma praticamente contínua, os níveis de glicose no sangue. Pode ser utilizado de 24 a 72 horas. A partir desse monitoramento, é desenvolvido um relatório que auxilia o médico na administração de tratamentos. "Com esse exame é possível verificar a qualidade do controle do diabetes, estabelecendo claramente os períodos do dia em que o paciente encontra-se descompensado", explica Simão Lottenberg, endocrinologista do
HIAE e responsável pelo exame.