Lixinha conta que, nesses 40 anos, observou o crescimento da população das jubartes na região e isso mudou os hábitos da comunidade pesqueira no local.
"Mudou muita coisa. O crescimento das baleias na nossa área é muito grande, cada ano é mais, e isso não parou, ao ponto de gerar impacto na pesca. A questão do equipamento, perdia tudo [quando enrolava nas baleias], risco pra gente e pra elas, e ela acabava morrendo depois. Na temporada das baleias, a gente para de pescar na região e fica mais pra terra. Faz adequação da modalidade de pesca", disse.
"É uma região espetacular, ela [baleia] dá show, se exibe, brinca. Faz dó ver morta, a gente está acostumado a ver viva. É bem curiosa, chega perto, do lado da embarcação. Aqui ela se sente em casa. Saltos, batidas de peitoral, ela se exibe, dá show".
Milton Marcondes explica um pouco sobre esse aumento da população. "Nos 2000, eram 3 mil jubartes no Brasil. Hoje, a estimativa é de mais 20 mil. Em 20 anos, elas cresceram muito. Ela era muito caçada e a população foi muito reduzida. Aqui no Brasil, a gente tem como base o número delas em 1800 eram 27 mil, mais ou menos. Elas foram caçadas, a caça foi interrompida na década de 60, e não sabemos o número exato que ficou, mas estima-se que sobraram 800. Foram tomadas varias ações para proteger as jubartes e deu certo", disse.
Estima-se que as jubartes vivam até os 60 anos. Monitoradas pelo projeto, algumas já são conhecidas dos pesquisadores. Todo ano voltam para acasalar ou reproduzir.
"Tem baleia que a gente conhece desde 1988, já adulta, que tem mais de 30 anos [hoje]", disse Milton Marcondes.
Curiosidades
Baleia Jubarte em Salvador, em julho de 2020 — Foto: Enrico Marcovaldi/ Projeto Baleia Jubarte
- O alimento básico das jubartes é o krill, que se parece com camarão;
- Antes de migrarem para o Brasil, elas se alimentam o suficiente para acumular gordura e se manter por 4 a 6 meses, pois não se alimentam em águas brasileiras;
- No período de reprodução, as baleias jubartes nadam sempre acompanhadas pelo filho ou pelo macho;
- Quando estão conquistando as fêmeas, os machos criam o chamado "grupo competitivo", cantam para chamar a atenção delas, agitados, se batendo, se exibindo;
- A gestação delas dura 11 meses. Cada jubarte tem um filhote a cada três anos, mais ou menos;
- O filhote mama cerca de 100 litros de leite por dia e engordam de 20 kg a 30 kg por dia;
- Ela vira adulta a partir dos 6 anos. Antes disso, é considerada juvenil, é mais curiosa e está mais exposta a riscos;
- Geralmente, ela vai chegar na maturidade sexual aos 5 anos;
- As jubartes mudam a linguagem, o "sotaque", com o passar dos anos. Os sons emitidos por elas mudam de geração em geração.
- Não são agressivas;
- A legislação do Brasil estabelece que barcos comuns fiquem a 100 metros de distância das baleias, mas é comum também que os animais se aproximem de algumas embarcações por conta própria Embarcações de grupos de pesquisa e monitoramento são autorizadas a se aproximar;
- É proibido nadar com elas.
Encalhes
Com o aumento da população das baleias jubarte, subiu também o número de encalhes e mortes da espécie no Brasil. Os principais problemas são baleias presas em equipamento de pesca, atropelamento por embarcação grandes, como navios, e a poluição do mar.
"Elas têm dificuldade de perceber de onde eles [navios] vêm e eles são muito rápidos, muitas vezes acabam passando por cima [das baleias]", explica Milton Marcondes.
A orientação é que a população acione o Projeto Baleia Jubarte, no caso de encalhes. Para isso, as equipes mantêm telefones de emergência, que também recebe ligação a cobrar. [Veja números abaixo]
Caravelas: (73) 3297-1340 (em horário comercial, de segunda a sexta-feira) e (73) 98802-1874 (WhatsApp 24h)
Praia do Forte: (71) 3676-1463 (em horário comercial, de segunda a sexta-feira) e (71) 981542131 (WhatsApp 24h)
Projeto Baleia Jubarte
Pesquisadores do Projeto Baleia Jubarte durante monitoramento da espécie na Bahia — Foto: Projeto Baleia Jubarte/ Divulgação
Com sedes em Praia do Forte e em Caravelas, na Bahia, e em Vitória, no Espírito Santo, o Projeto Baleia Jubarte atua há mais de 30 anos na pesquisa e conservação das baleias jubarte e do ambiente marinho no Brasil.
Por meio do projeto, são feitas ações de pesquisa científica, turismo responsável, educação ambiental e atividades de conservação que contribuem com a recuperação da população de jubartes do atlântico sul ocidental.
Com a pandemia do novo coronavírus, o projeto também precisou se adaptar para manter os trabalhos. Seguindo um protocolo de segurança, as equipes de pesquisa foram reduzidas pela metade para garantir o distanciamento nas embarcações. Agora, em cada embarcação, saem quatro pessoas para fazer o trabalho de oito.
A falta desse trabalho vai impactar na identificação fotográfica, que registra as marcas da cauda, uma espécie de impressão digital da jubarte. "A quantidade de informação a gente acha que vai cair 50%. Através do estudo da fotoidentificação que você consegue ver a movimentação dela ao longo da costa", explica Sérgio Cipolotti, biólogo do Projeto Baleia Jubarte.
Filhote de baleia jubarte em Abrolhos, berçário da espécie no Atlântico Sul — Foto: Enrico Marcovaldi/ Projeto Baleia Jubarte