Foto/ Amigos da Jubarte
Uma nova pesquisa, conduzida pelo Programa de Monitoramento da Biodiversidade Aquática – Área Ambiental I Porção Capixaba do Rio Doce e Região Costeira e Marinha Adjacente (PMBA), revelou dados alarmantes sobre a contaminação de baleias e outros animais marinhos no sul da Bahia. Essa pesquisa é executada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), por meio da Fundação Espírito-Santense de Tecnologia (Fest), com o objetivo de apoiar as ações reparatórias relacionadas aos impactos do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, em 2015.
Pela primeira vez, constatou-se que os metais pesados liberados com o rompimento da barragem estão afetando toda a cadeia alimentar marinha da região, incluindo as baleias-jubarte, que migram anualmente para a costa baiana. Exames detectaram níveis elevados de substâncias tóxicas, como mercúrio e chumbo, no sangue dos animais, além de anomalias como tumores.
Impacto Profundo no Ecossistema Marinho
O rompimento da barragem de Fundão liberou milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração, que se espalharam pelo Rio Doce até o oceano Atlântico. A pesquisa revelou que os efeitos dessa contaminação vão além das águas do rio, impactando severamente a fauna marinha. As baleias-jubarte, símbolo da biodiversidade costeira baiana, estão entre as espécies mais afetadas. Além de tumores, foram observadas deformidades e outros problemas de saúde, como resultado da contaminação.
Foto/ Projeto Baleia Jubarte
Esses metais pesados não afetam apenas os grandes mamíferos. Peixes e outros organismos que compõem a base da cadeia alimentar também foram contaminados, o que tem amplificado os danos ao ecossistema. Os cientistas temem que a bioacumulação desses metais pesados nas espécies marinhas possa levar a uma crise ambiental ainda maior nos próximos anos.
Ameaças à Biodiversidade e Economia Local
O impacto do desastre não se limita à saúde dos animais marinhos. As comunidades que dependem da pesca também estão sofrendo as consequências. A presença de metais pesados nos peixes e frutos do mar levanta preocupações sobre a segurança alimentar e a subsistência de milhares de famílias no sul da Bahia. O setor pesqueiro, essencial para a economia local, está ameaçado à medida que a contaminação se torna mais evidente.
Foto/ PMBA -Fest
De acordo com os pesquisadores do PMBA, o monitoramento contínuo da biodiversidade aquática é essencial para compreender os efeitos a longo prazo da tragédia. "Os rejeitos de Mariana afetaram a fauna de forma crônica, e os resultados mais graves estão começando a aparecer agora", afirmam os responsáveis pela pesquisa.
Ações de Recuperação e Necessidade de Medidas Urgentes
O Programa de Monitoramento da Biodiversidade Aquática tem o papel crucial de apoiar ações reparatórias e fornecer dados para a formulação de políticas públicas que possam mitigar os danos causados pelo rompimento da barragem. Além disso, os cientistas estão exigindo que as autoridades responsáveis intensifiquem os esforços de recuperação ambiental e tomem medidas urgentes para evitar que desastres semelhantes se repitam.
A tragédia de Mariana, considerada um dos maiores desastres ambientais do Brasil, continua a deixar marcas profundas no ecossistema e nas comunidades afetadas, mesmo quase uma década após o ocorrido. Os pesquisadores da Ufes alertam que, sem uma ação coordenada entre empresas, governos e comunidades, o futuro da biodiversidade aquática e da economia da região permanecerá em risco.