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Punições e dívidas de empreiteiras podem provocar crise no sistema financeiro do País

Por Neuza em 09/01/2015 às 12:35

Graça Foster

 

 

 

 

 

 

 

 

 

As empresas de engenharia estão comendo o pão que o diabo amassou. Com seus nomes manchados pela crise, elas estão sendo punidas duplamente pela Petrobrás. Além das 23 grandes empresas suspensas preliminarmente e impedidas de fazer novos negócios com a estatal, um número ainda maior está sendo punido por não receber bilhões de reais em aditivos represados pela companhia. A Petrobrás, por sua vez, usa um sofisma:"se os aditivos não estão aprovados, não há dívida.” Na verdade, como se sabe, todos os aditivos estão amontoados na gaveta do diretor de engenharia, que não os aprova. Ou porque não tem tempo para resolver tudo a tempo e a hora ou porque está orientado a não resolver.

As consequências serão extremamente danosas não só para as empresas de engenharia, que já estão vivendo graves dificuldades financeiras e arrastando pequenos e médios fornecedores para o fundo do poço. Serão piores para muitos bancos estatais e privados que têm mais de R$ 130 bilhões alavancados com estas companhias. A quebra dessas empresas vai arrastar o sistema financeiro para uma séria crise.

A IESA, a OAS e a Engevix são as que estão nas piores situações. A IESA já está em recuperação judicial e com pouquíssimas chances de sobreviver pelo volume das dívidas. A pá de cal foi a decisão da Petrobrás em suspendê-la por prazo indeterminado. A OAS e a Engevix, também suspensas, têm outras atividades de engenharia que não são ligadas apenas ao mercado de petróleo e gás. Mas suas operações estão comprometidas pelo não recebimento das dívidas não pagas pela Petrobrás.

A OAS está demitindo, vendendo ativos, às voltas com compromissos financeiros internacionais não cumpridos e sendo obrigada praticamente a deixar os investimentos aeroportuários de Guarulhos por conta desses problemas. O mesmo problema é enfrentado pela UTC com o aeroporto de Viracopos, em Campinas. A Engevix está estudando a venda seus investimentos em aeroportos, hidrelétricas e estaleiro.

A crise parece não ter fim. De um lado, um posicionamento de cautela das empresas diante de tanta confusão. De outro, a apreensão em relação ao futuro dos projetos da indústria no País. Enquanto isso, a maioria das companhias vão seguindo o conselho do velho marinheiro inspirado na canção de Paulinho da Viola: "…durante o nevoeiro, leve o barco devagar”. A dificuldade está na falta de esperança de encontrar um porto seguro.

À boca pequena, o mercado só vê esperanças na substituição da presidente da Petrobrás e de toda sua diretoria. A própria Graça Foster sabe que ela fará melhor se sair do que se ficar e já admitiu ter pedido para sair, mas a presidente Dilma Rousseff só admitiu, até agora, mudar o Conselho de Administração da Estatal.

Nem todas as 23 empresas punidas receberam a comunicação oficial de que estão proibidas de assinarem contratos com a Petrobrás. Uma comissão de funcionários da própria Petrobrás é que está responsável por fazer as análises e estabelecer o prazo de punição para essas companhias. Seja qual for, ela terá efeito para todas as empresas dos grupos econômicos. Com isso, vai passar e muito o número de empresas que ficarão de fora das próximas licitações.  Acredita-se que apenas empresas estrangeiras irão participar.

 A estatal informa que ainda está fazendo os comunicados. Algumas das empresas punidas ainda fazem obras para a Petrobrás. No mercado, comenta-se que se a Petrobrás realmente acredita que essas empresas são inidôneas, por que mantém seus contratos em andamento? Por que a estatal não se preocupou em manter a coerência de sua decisão?

Neste momento, há algumas obras paradas esperando soluções imediatas, como o término da obra do SNOX, da Refinaria Abreu e Lima, que estava sob a responsabilidade da Alumini. A empresa parou o trabalho e reclama na justiça o recebimento de R$ 1,2 bilhão. Um imbróglio difícil de resolver. Sem o SNOX, nada de diesel zero de enxofre, base da busca por combustíveis não poluentes.

Vejam as obras que precisam ter prosseguimento e que estão paradas:

1-    Montagem de 24 módulos dos FPSOs replicantes que estavam a cargo da IESA. Com a suspensão das empresas, onde eles serão feitos e quem ficará responsável? O contrato será relicitado. O caminho mais óbvio é entregar essas montagens para quem está sendo eficiente; Acredita-se que apenas empresas estrangeiras irão participar

2-    SNOX, o filtro, o coração da Refinaria Abreu e Lima, que é capaz de produzir o diesel sem enxofre, uma das principais razões para se construir a RNEST;

3-    UFN III – Unidade de Fertilizantes Nitrogenados de Três Lagoas. Obra que estava a cargo do consórcio da Galvão Engenharia e de uma empresa Chinesa, a Sinopec, que não foi incluída na lista das empresas suspensas;

4-    A Interligação da tancagem do Comperj, que estava a cargo do Consórcio Jaraguá-Egesa;

5-    A construção e montagem do Flare, da Torre de Resfriamento e do prédio administrativo do Comperj, que estava a cargo da Fidens;

6-    Complemento da Unidade de Coque da RNEST, também sob a responsabilidade da Fidens;

São muitos problemas para serem resolvidos. Sem uma equipe de confiança da Petrobrás, capaz de honrar os compromissos assumidos, sem perseguir as empresas escolhidas para executar as suas obras, não há solução à vista. É preciso bom senso e calma para se resolverem os problemas. E o que está se vendo neste momento é que estes dois preceitos não estão existindo. Pressionados pela comissão que investiga internamente o problema, ninguém tem e nem quer ter autonomia para nada. Enquanto a estatal não souber o que ela quer exatamente, a crise só vai piorar com o tempo.


Fonte: Neuza Brizola/Petronotícias

Tags:   Economia
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