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Novo pornô: filmes feitos em casa, de autoras mulheres ou criados para elas

Filmes feitos em casa

Por Neuza em 15/11/2016 às 17:03

Explore esse universo disponível apenas para quem tem mais de 18 anos

Já dá para assistir um vídeo de sexo e enxergar-se nele sem ser a Barbie ou o Ken. O universo pornográfico que inclui mais formas de ser, parecer e imaginar está em plena expansão do Big Bang. Tem pornô feminino, feminista... E as nudes do Snap têm parte nessa história. Conheça novas narrativas e suas gestações.

De outro jeito
O que te excita?
Chegar em casa do trabalho e flagrar seu marido ou mulher com um(a) amante: você ia se retar ou participar? E se o entregador de gás for na casa da loira siliconada e colocá-la de joelhos? Cenas assim compõem a pornografia tradicional. Cansada dessas abordagens, a sueca Erika Lust (erikalust.com) passou a produzir filmes em 2004. Neles, abraça a pluralidade de corpos e a livre expressão sexual. Com Cabaret Desire (2012) ganhou o Feminist Porn Awards, o Oscar do pornô feminista. Ela faz da produção feminina, mais romantizada e doce, até vídeos bem explícitos. Em entrevista à revista TPM, Erika disse que evita “mostrar aquele estereótipo da mulher de cinema pornô: a fácil, que vende seu corpo por dinheiro, a vadia, a teenager, a tigresa, a enfermeira... Também evito fantasias masculinas clichês. O que faço é aproximar o cinema adulto da minha perspectiva feminina e feminista”. A intenção do pornô feminista é colocar a mulher como protagonista, para que a imaginação erótica seja variada e não-violenta.

Conquistadoras
“O pornô mainstream é uma visão de homens, para homens. Um espaço em que a mulher é normalmente vista como objeto que está ali para servir a uma lógica de prazer que é sempre dele”, diz Léa Santana, doutoranda em Estudos sobre Mulheres, Gênero e Feminismo da UFBA. Para a estudante de letras Ludmila Rodrigues, as produções reproduzem estereótipos. “A indústria pornô molda a sexualidade. Ela diz às crianças de sexo masculino que, para serem ‘homens de verdade’, devem gostar de um determinado padrão de comportamento sexual”, afirma a universitária, que é contra todo tipo de pornô. Léa considera que a maioria dos filmes eróticos é violenta e reduz o imaginário erótico: “Há mulheres com plurais interesses, formas de agir no mundo e possibilidades de viver a própria sexualidade”.

Sexo e política
Boca no mundo
Pensar e falar sobre sexo não é tabu como há 50 anos, mas ainda está longe de ser simples. Para Thaís Fa- ria, professora de Gênero e Diversidade da UFBA, a vergonha de tratar o assunto é empecilho para a liberdade de expressão e, consequentemente, para o fim de problemas como a cultura do estupro. “Se no cotidiano, falar sobre sexo já é uma coisa complicada, imagina defender que mulher pode ser agressiva e dona da sua sexualidade? Esse direito nos é retirado”, conta Léa. Se no prazer, a mulher está sob domínio do homem, na política ou dentro de casa também.

Tem ligação  
Dos 43 vereadores eleitos em Salvador este ano, só oito são mulheres. “É a partir do sexo que as relações de poder, nas quais o homem detém o poder, se tornam fantasia e fetiche”, defende Ludmila. De acordo com o Mapa da Violência (Faculdade Latino- Americana de Ciências Sociais), das 106.093 mulheres assassinadas entre 1980 e 2013, 55,3% morreram em casa e 33,2% pelas mãos de parceiros ou ex-parceiros. “Pornografia pode gerar empoderamento sobre corpo e sexualidade. Mas ainda fomenta práticas violentas para a maioria das mulheres”, pontua Thaís.

Façamos
A um clique
Como mandar e receber nudes (fotos sensuais de pessoas nuas) quase sem risco de vazamento? O Snapchat, aplicativo lançado em 2011, é a resposta. Todas as mensagens somem em até 24 horas. Não só por este motivo – mas é impossível não citá-lo – o app é um fenômeno. São mais de 100 milhões de usuá- rios ativos diariamente, 86% deles têm entre 13 e 34 anos. De acordo com o Nielsen Media Research, 41% dos americanos entre 18 a 34 anos usam o aplicativo. Longe dos EUA, o Snap também faz sucesso. Gabriel Mendes (nome fictício), 18 anos, é de Salvador e publica nudes para quem qui- ser ver: cerca de 4 mil pessoas por foto. Por conta do público grande, ainda divulga outros desinibidos. Isso começou porque ele queria se sentir desejado e ressalta que nada sai do app. ”O prazer está na exi- bição”, afirma. Só nunca exibe o rosto: teme os prints (registros da tela), que são possíveis, mas deixam pegadas.

De hoje...
Antes do Snap e celulares com câmera, eram textos que molhavam calci- nhas e faziam cuecas explodirem. “Já havia SMS, bate-papos e cartas. O Snap só potencializou as ações de um jeito mais objetivo, fácil e autodes- trutivo, deixando as pessoas mais confortáveis”, pondera o jornalista Eduardo Leite, mestrando em Comunicação e Cultura (Póscom/UFBA) que pesquisa fotografia no app. “Amador é mais gostoso. Não vejo mais filme, só nudes no snap”, afirma o goiano Felipe Souza (nome fictício), 25, que também publica suas nudes, que são vistas por 2 mil pessoas. Na internet, surgiram iniciativas como o KCT Zine (@kct.zine), sobre a vida se- xual de jovens gays, e o Chicos (@aboutchicos), que faz ensaios com corpos diversos. Tem também as redes sociais para compartilhamentos eróticos, como o Upload e o Fuckbook.

 

Colagem: Iansã Negrão e Morgana Miranda
Com imagens de: Erika Lust, Make Love Not Porn, Snapchat, A Four Chambered Heart, Kct Zine e Chicos

 

Diferenças
Mais amor, menos pornô
Peitos pequenos, bundas flácidas, pênis tortos e barrigas avantajadas. Isso é um pouco do que as pessoas quase nunca vêem numa cena pornô. Ironicamente, é justamente isso que a gente encontra na realidade dos corpos dos outros e, muitas vezes, no nosso. “Gente como a gente”, define Cindy Gallop, 56. Na batalha entre o pornô tradicional e o mundo como ele é, a inglesa comprou a briga do lado do mundo real. Em 2009, criou a campanha Make Love Not Porn (makelovenotporn.com), plataforma de compartilhamento de experiências sexuais mais humanas.
O que vale é a exaltação das pessoas como elas são. A ideia da britânica é mudar padrões e comportamentos. Ela propõe uma discussão da educação sexual que, para ela, pode ser fruto da quebra de valores errados, construídos pelos estereótipos e pela separação dos papeis de homem e mulher. “É preciso falar de sexo, discutir a pornografia e a necessidade de educação sexual real”, disse Cindy Gallop em entrevista à revista TPM.

Caminhos 
As novas perspectivas do pornô, influenciadas pelos snaps e pautadas pelas produções feministas, levam a uma reflexão do que dá prazer. Léa Menezes centrou sua tese de doutorado na pornografia feminista. Na pesquisa, ela se diz fascinada com os novos rumos que a noção de pornografia tem tomado: a diversidade de corpos, cores e desejos. “Você não precisa ter uma bunda grande para ser desejável, você precisa se sentir bem. Você não precisa ter um tórax dito fantástico para ser desejável, você precisa gostar de quem você é. E eu acho que essa é a grande sacada da pornografia feminista: não excluir e sempre procurar, ao máximo, incluir possibilidades”, conta Léa. Ela afirma o papel fundamental das nudes nessa revolução dos corpos, pois permitem que padrões de beleza sejam revistos. E que o sexo deixe de ser tão tabu, abrindo portas para novas formas de expressão. “A possibilidade de quebrar essa caixinha e de fazer uma produção que é minha, que é sua, que tem a sua cara, tem o seu interesse e que tem o seu tesão, isso é abrir possibilidades para a vida. É abrir possibilidades para formas de viver e de se expressar”, explica Léa.

Onde ir?
porniq.com - Portal de vídeos com diferentes categorias, incluindo sexo amador e pornô romântico. Compila vídeos com variedade de corpos para todos os gostos.

dicksforgirls.tumblr.com
Fotos para apreciação da beleza masculina sob olhar feminino. Tem diferentes estilos de nudes.

snap-c-h-a-t.tumblr.com
Reposta nudes de homens e mulheres, gays e heteros. Tem mais de 100 mil visitas. Snap: Tumblrsnap69.

petrajoy.com
Filmes com perspectiva feminista, produzidos por Petra Joy, vencedora de 3 Feminist Porn Awards.

Fonte: Correio

Tags:   Filmes pornô
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