A BR-101 foi novamente palco de tensão na manhã desta segunda-feira (7), no trecho entre os municípios de Itamaraju e Itabela, extremo sul da Bahia. Indígenas de diferentes etnias bloquearam completamente a rodovia em protesto contra a prisão do cacique Wellington Braz, conhecido como Suruí, ocorrida no fim de semana anterior.
O líder indígena, detido pela Força Nacional, foi flagrado com um arsenal de armas de fogo, incluindo pistolas com numeração raspada e munições de uso restrito. A prisão, no entanto, gerou revolta entre os povos originários da região, que afirmam que a detenção é arbitrária e motivada por perseguição política. Lideranças acusam as autoridades de promover abusos durante o transporte do cacique, incluindo violência física e psicológica.
Durante o protesto, centenas de indígenas interditaram os dois sentidos da rodovia. Um caminhão conduzido por uma mulher foi impedido de seguir viagem, e a condutora foi obrigada a abandonar o veículo. Ela relatou ter vivido momentos de extremo medo, chegando a descrever a situação como uma “tortura psicológica”. O veículo teve parte da carroceria danificada, aumentando a tensão no local.
Ao longo do dia, o congestionamento de veículos se estendeu por vários quilômetros. Ambulâncias, caminhões com cargas perecíveis, trabalhadores e famílias inteiras ficaram presas na estrada sem previsão de liberação. O bloqueio trouxe impacto direto ao abastecimento de cidades da região.
Em resposta à mobilização, a Força Nacional foi deslocada para a área, reforçando a segurança e monitorando os manifestantes. O clima permaneceu tenso ao longo de toda a segunda-feira, com trocas de acusações entre lideranças indígenas e representantes do governo federal.
Estado que ficou o caminhão da motorista - Foto: Redes sociais
O Conselho de Caciques do Território Indígena Barra Velha de Monte Pascoal emitiu nota pública repudiando a prisão de Suruí e exigindo sua imediata libertação. O grupo pede também que a Força Nacional se retire da área, classificando a presença da tropa como uma forma de intimidação.
Especialistas em segurança e juristas ouvidos pela reportagem apontam a necessidade de diálogo urgente entre o Estado e os povos indígenas, além de uma investigação rigorosa sobre a legalidade da prisão do cacique.
Imagem capturada do vídeo
A Polícia Federal informou que segue apurando o caso, inclusive a origem do armamento apreendido. Além das armas com numeração suprimida, foram encontrados coletes balísticos e equipamentos táticos no momento da prisão.
A Justiça Federal deve se manifestar nos próximos dias sobre os pedidos de habeas corpus impetrados pelas lideranças indígenas. Enquanto isso, a região permanece em estado de alerta, com risco de novos bloqueios e conflitos fundiários envolvendo indígenas e fazendeiros locais.
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A situação reacende o debate nacional sobre os direitos dos povos originários, a militarização de territórios tradicionais e a atuação do Estado em áreas de conflito.
