Publicidade Davaca novo

Estudo mensura perda de vidas por falta de medicamentos contra câncer de mama na rede pública

Mortes provocadas por câncer de mama aumentam no país

Por Neuza em 05/10/2016 às 10:54


Material publicado no Journal of Global Oncology analisou caso de mulheres diagnosticadas com câncer de mama HER2 positivo

 Um estudo conduzido por oncologistas brasileiros de diversas instituições conseguiu dimensionar a quantidade de mortes ocorridas em pacientes com câncer de mama HER2 positivo tratadas na rede pública de saúde que não tem acesso às terapias monoclonais mais avançadas para esse subtipo da doença. 

O estudo, que foi publicado no Journal of Global Oncology, analisou o acesso a dois medicamentos indicados para a doença: o trastuzumab, aprovado pela Anvisa para comercialização no Brasil desde 1999 e que consta na lista da Organização Mundial de Saúde (OMS) de medicamentos essenciais para o câncer; e o pertuzumab, aprovado pela Anvisa desde 2013.

 Entretanto, no sistema público brasileiro, pacientes em estágio inicial de câncer de mama HER2 só passaram a ter acesso ao trastuzumab nos últimos três anos, e as pacientes em estágio avançado da doença estão privadas deste medicamento e de qualquer outra terapia anti HER2, apesar de os benefícios destes tratamentos já terem sido demonstrados por diversos estudos clínicos. Já o pertuzumab está indisponível no SUS para qualquer situação.

Estima-se que aproximadamente 58 mil mulheres sejam diagnosticadas com câncer de mama em 2016 no Brasil. Segundo os pesquisadores do estudo, 2008 mulheres terão o subtipo HER2 positivo da doença em estágio avançado e, após 2 anos, apenas 808 estarão vivas se forem tratadas somente com quimioterapia, que é o cenário atual do que ocorre no SUS, gerando uma mortalidade de 60%. Mas, caso o tratamento se dê com a associação entre quimioterapia e o trastuzumab, em 2 anos, o número de pacientes vivas subiria para 1408, com uma mortalidade de 30%.  

Por fim, o estudo estima a sobrevida de pacientes tratadas com quimioterapia associada ao trastuzumab e ao pertuzumab. Neste cenário, em 2 anos, a estimativa é de que 1576 pacientes sobrevivam à doença, com uma mortalidade de cerca de 22%. 

“O estudo analisou especificamente o caso de mulheres diagnosticadas com câncer de mama HER2 positivo. Porém este é só um exemplo de como a demora excessiva para incorporar novos medicamentos oncológicos pelo SUS pode acarretar em maior perda de vidas”, comenta oncologista e integrante da diretoria da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), Dr. Gilberto Amorim.

Segundo o IBGE, 73% da população brasileira tem acesso a serviços de saúde exclusivamente pelo SUS. Para um medicamento estar disponível no SUS ele precisa ser aprovado pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec), órgão que pertence ao Ministério da Saúde.  

“Não podemos deixar de reconhecer o grande desafio que é prover saúde para uma população de mais de 200 milhões de pessoas e é inegável que o Sistema Único de Saúde cumpre parte desse desafio de maneira, em muitos casos, bastante satisfatória. Muitas pessoas recebem cuidados e, em alguns casos, estão vivas, devido a tratamentos que receberam na rede pública. Porém, não podemos nos abster de ter uma visão crítica sobre as falhas e os problemas graves que existem. Neste caso específico, as pacientes tratadas no SUS recebem um tratamento distinto do que ocorre na rede privada”, analisa o oncologista. 

Para contribuir com as discussões sobre o acesso a esses tratamentos na rede pública, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica irá submeter um pedido para a liberação do trastuzumab no SUS no próximo mês à Conitec. “A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica está à disposição do Ministério para ajudar em análises técnicas para incorporar tratamentos oncológicos no SUS. Será a primeira vez que a SBOC faz esse tipo de submissão, pois entendemos que é nossa responsabilidade trabalhar para prover as melhores condições de tratamento para a população brasileira”, completa Dr. Gilberto.

Fonte: Giulia Jubelinei

Tags:   Saúde cancer de mama
publicidade